A nutrição pré e pós-treino é uma peça central para quem busca maximizar desempenho, otimizar recuperação e acelerar adaptações ao treino. Embora a dieta total diária seja o fator mais determinante para resultados, o que você come nas janelas imediatamente antes e depois da sessão pode influenciar energia disponível, capacidade de treinar mais intensamente, taxa de síntese proteica e reposição de glicogênio. Este artigo explica de forma prática e baseada em princípios fisiológicos o que comer antes e depois do treino para diferentes objetivos e contextos — força, hipertrofia, resistência e perda de gordura — incluindo timings, exemplos de refeições, estratégias para veganos e pessoas que treinam em jejum, suplementos úteis e erros comuns a evitar.
Por que o que você come em torno do treino importa
O objetivo do pré-treino é fornecer substrato energético para a sessão, preservar desempenho e reduzir fadiga precoce. Já o pós-treino visa iniciar a recuperação: fornecer aminoácidos para síntese proteica, carboidratos para repor glicogênio e elementos que reduzam inflamação excessiva e favoreçam a adaptação. Embora o balanço calórico e a ingestão proteica diária sejam fundamentais, o timing e a composição das refeições "peri-workout" otimizam a tradução do treino em ganhos reais. Para atletas e praticantes que treinam várias vezes ao dia ou que têm sessões muito intensas, essas janelas tornam-se ainda mais críticas.
Princípios básicos do pré-treino
Os três pilares do pré-treino são: carboidratos para energia, proteína para suporte anabólico e pequenas quantidades de gordura para saciedade, dependendo do timing. Carboidratos de fácil digestão aumentam glicose sanguínea e disponibilidade de glicogênio durante exercícios intensos. Proteína antes do treino fornece aminoácidos que podem reduzir catabolismo durante a sessão e ajudam na resposta anabólica pós-treino. Gorduras devem ser moderadas antes de treinos próximos à refeição, pois retardam o esvaziamento gástrico e podem causar desconforto se em excesso.
Quantidades recomendadas antes do treino
Se a refeição pré-treino é 2–3 horas antes, uma boa estrutura é: 1–2 g/kg de carboidratos (dependendo do volume do treino) e 0,25–0,4 g/kg de proteína. Por exemplo, uma pessoa de 70 kg pode consumir 70–140 g de carboidratos e 18–28 g de proteína se houver 2–3 horas antes do treino. Se a sessão ocorrer em 30–60 minutos, opte por uma refeição menor e de fácil digestão: 0,3–0,5 g/kg de carboidratos e 15–20 g de proteína. Para treinos de endurance prolongados, aumentar a ingestão de carboidratos nas 24 horas anteriores é mais importante do que uma única refeição.
Tipos de carboidratos e sua seleção
Carboidratos complexos (aveia, arroz integral, batata doce) fornecem energia sustentada quando consumidos 2–3 horas antes. Carboidratos simples (frutas, pão branco, mel) são úteis quando o tempo até o treino é curto, pois são rapidamente digeridos. Para treinos longos ou intensos, considere incluir carboidratos de alto índice glicêmico no pré-treino imediato para elevar glicemia e retardar fadiga. A escolha também deve considerar a sensibilidade gastrointestinal individual: algumas pessoas toleram bem frutas e sucos, outras preferem opções sólidas e leves.
Proteína no pré-treino: por que incluir
Consumir 15–30 g de proteína antes do treino pode reduzir a degradação proteica durante a sessão e fornecer aminoácidos essenciais para iniciar a síntese proteica. Fontes como ovos, iogurte grego, whey protein ou uma porção de carne magra são ótimas opções. Em treinos de força e hipertrofia, essa prática favorece maior balanço proteico positivo quando combinada com ingestão proteica adequada no pós-treino.
Gorduras e fibras: timing e cuidado
Gorduras e fibras são nutrientes importantes para a saúde, mas antes do treino exigem cautela. Grandes quantidades de gordura retardam o esvaziamento gástrico e podem provocar desconforto durante a atividade, especialmente em exercícios que envolvem impacto ou movimentos intensos. Fibra em excesso também pode causar desconforto intestinal. Portanto, reduza a gordura e a fibra em refeições muito próximas ao treino e reserve alimentos integrais e fontes de gordura saudável para refeições mais distantes da sessão.
Exemplos práticos de refeições pré-treino conforme o timing
Treino com 2–3 horas de antecedência: arroz integral com frango grelhado e legumes, omelete com aveia; um sanduíche de pão integral com peito de peru e salada leve. Treino com 60 minutos de antecedência: iogurte grego com banana e mel, tapioca com queijo magro, batata doce assada com um pouco de frango desfiado. Treino com menos de 30 minutos: um shake de whey com uma banana, uma barra de cereal de fácil digestão ou uma fatia de pão branco com geleia. Ajuste volume e tipos conforme sua tolerância.
Estratégias para treinar em jejum
Muitas pessoas optam por treinar em jejum, especialmente em modalidades de perda de gordura ou por preferência pessoal. Treinar em jejum pode aumentar a oxidação de gordura durante a sessão, mas também pode reduzir intensidade e volume de treino em alguns indivíduos. Se você treina em jejum e nota queda de desempenho, considere consumir pelo menos 10–20 g de proteína e 20–30 g de carboidrato antes. Após sessões em jejum, priorize a refeição pós-treino para repor glicogênio e iniciar recuperação.
O que comer durante o treino
Para a maioria de treinos de força de 45–90 minutos, água e, se necessário, uma bebida com eletrólitos são suficientes. Para treinos de endurance longos (>90 minutos) ou exercícios em calor/altitude, ingestão contínua de carboidratos (30–60 g/h, e até 90 g/h em algumas provas usando múltiplos tipos de carboidrato) melhora desempenho e previne fadiga. Géis, bebidas esportivas e frutas secas são opções práticas. Em treinos intervalados muito intensos, pequenas quantidades de carboidrato podem ajudar a manter potência nas séries subsequentes.
Objetivos pós-treino: recuperação e crescimento
No pós-treino os objetivos são claros: repor glicogênio (especialmente quando há treinos subsequentes no mesmo dia), interromper catabolismo, iniciar síntese proteica e promover sinalização anabólica. A janela anabólica existe, mas não é tão estreita quanto se pensava; ainda assim, consumir proteína e carboidratos nas 1–2 horas após o treino é prático e benéfico. Para treinos de força e hipertrofia, priorize 20–40 g de proteína de rápida digestão e 0,5–1 g/kg de carboidrato dependendo do volume do treino e do tempo até a próxima refeição.
Proteína pós-treino: quanto e qual tipo
Whey protein é uma opção eficiente pós-treino por sua rápida digestão e elevado conteúdo de leucina, o aminoácido chave para estimular a síntese proteica. Uma dose de 20–40 g de whey ativa a via mTOR e aumenta MPS. Fontes sólidas como peito de frango, peixe ou ovos também funcionam bem, especialmente se a refeição completa seguir em 1–2 horas. Para veganos, combinar fontes como soja, ervilha e grão-de-bico e garantir quantidade adequada de leucina é essencial.
Carboidratos pós-treino: repor ou não repor
Se seu principal objetivo é recuperação e você tem treinos subsequentes no mesmo dia, os carboidratos pós-treino são importantes para repor glicogênio. Em geral, 0,5–1 g/kg nas primeiras horas ajuda. Em contextos de recomposição corporal ou perda de gordura, a ingestão de carboidratos pode ser moderada, mas ainda assim a presença de carboidratos junto com proteína melhora reposição e respostas anabólicas, especialmente em treinos de alta intensidade.
Gorduras no pós-treino: incluir ou evitar
Uma quantidade moderada de gordura no pós-treino não anula os benefícios da refeição, mas grandes quantidades podem retardar a digestão e a disponibilidade de aminoácidos. Para otimizar recuperação imediata, prefira refeições com proteína e carboidratos com pouca gordura e consuma fontes de gordura saudável nas refeições subsequentes do dia.
Hidratação e eletrólitos no pós-treino
Reidratar-se após o treino é crucial para recuperação e desempenho futuro. Reponha os fluidos perdidos com água e, quando houver suor intenso ou exercícios prolongados, considere bebidas com eletrólitos ou alimentos ricos em potássio e sódio. Recuperação ideal de fluidos envolve consumir 125–150% do volume perdido nas horas após o treino até restaurar o equilíbrio.
Suplementos úteis peri-workout
Alguns suplementos demonstram benefício para performance e recuperação. Creatina monohidratada (3–5 g/dia) aumenta força e capacidade de trabalho em alta intensidade e pode ser tomada a qualquer momento do dia; muitos optam por tomá-la no pós-treino junto com carboidrato e proteína. Beta-alanina melhora desempenho em esforços de média intensidade e repetidos. Cafeína pré-treino melhora foco e potência, normalmente 3–6 mg/kg cerca de 30–60 minutos antes. BCAAs têm utilidade limitada se a ingestão proteica total é adequada. Whey protein é prático para o pós-treino imediato.
Exemplos de combinações práticas pós-treino
Shake: 1 scoop de whey (20–30 g proteína) + 1 banana + 250–300 ml de leite ou água. Refeição sólida: arroz branco, peito de frango grelhado, brócolis — opção versátil para repor glicogênio e proteína. Opção vegana: shake de proteína de ervilha + aveia + frutas; ou quinoa com tofu e legumes. Se houver necessidade de recuperação urgente, bebidas esportivas com proteína adicionada ou géis com BCAA podem ser soluções temporárias.
Estratégias específicas para objetivos diferentes
Para hipertrofia: priorize ingestão de proteína total diária adequada e inclua proteína e carboidratos no pós-treino para maximizar MPS. Para resistência: aumente a ingestão de carboidratos pré e intra-treino e reponha glicogênio no pós. Para perda de gordura: mantenha déficit calórico moderado, preserve ingestão proteica alta e ajuste carboidratos pré e pós para sustentar qualidade de treino sem exceder calorias. Em todos os cenários, priorize qualidade de alimentos e consistência.
Considerações para veganos e vegetarianos
Veganos e vegetarianos devem prestar atenção à qualidade proteica e ingestão de leucina. Combine diferentes fontes vegetais (soja, ervilha, quinoa, leguminosas) para obter perfil de aminoácidos adequado. A suplementação com proteína de ervilha ou soja é útil no pós-treino. Considere também monitorar vitamina B12, ferro e ômega-3, que podem afetar energia e recuperação quando deficientes.
Erros comuns e como evitá-los
Erros frequentes incluem: pular a refeição pré-treino e treinar com baixa energia, exagerar em gorduras antes do treino, esperar muito para comer após o treino, negligenciar hidratação e confiar excessivamente em suplementos em vez de uma dieta sólida. Para evitar, planeje suas refeições com antecedência, teste tolerância individual a alimentos antes da sessão e mantenha uma estratégia simple e repetível.
Como monitorar e ajustar sua estratégia
Avalie rendimento no treino, nível de fadiga, qualidade do sono, composição corporal e resultados desejados. Se sentir queda de desempenho, ajuste carboidratos pré-treino ou adicione um pequeno lanche antes da sessão. Se não houver recuperação adequada, aumente proteína no pós-treino e higiene do sono. Pequenos ajustes semanais e registro de treino e alimentação ajudam a encontrar a combinação ideal.
Conclusão e recomendações práticas
O que comer antes e depois do treino depende do objetivo, do timing e da tolerância individual, mas alguns princípios são universais: consumir carboidratos de fácil digestão e uma fonte de proteína antes do treino quando possível; priorizar proteína rápida e carboidratos pós-treino para recuperação; ajustar gorduras e fibras conforme o tempo até a sessão; manter hidratação e considerar suplementos como creatina e cafeína conforme necessidade. Teste e registre suas respostas, pois a individualidade é grande. Com pequenas mudanças e consistência, a nutrição peri-workout transforma treinamento em ganhos reais.
Resumo prático para aplicar hoje: 1) Se tiver 2–3 horas, faça refeição completa com carboidrato complexo e proteína; 2) Se tiver 30–60 minutos, prefira carboidrato simples e 15–25 g de proteína; 3) Para o pós-treino, consuma 20–40 g de proteína e 0,5–1 g/kg de carboidrato nas 1–2 horas seguintes; 4) Hidrate-se bem antes, durante e depois; 5) Use creatina diariamente e cafeína pré-treino se desejar aumento de performance.
Checklist rápido: planeje sua refeição pré com base no tempo disponível, tenha um shake prático para o pós, monitore energia durante os treinos e ajuste conforme necessidade. Com consistência, suas janelas peri-workout potencializarão os resultados do treino.